4 dias no Borneo: Kuching e arredores

Antes de começar a organizar esta viagem, eu sabia algumas coisas básicas sobre o Borneo. Sabia que é uma ilha em que parte do território pertence à Malásia, que tem muito verde, que é lá que floresce a raflésia (a maior flor do mundo) e sabia que é um sítio onde se podem ver orangotangos no estado selvagem. E isto chegava-me para ter vontade de lá ir. Tinha também algumas ideias completamente erradas. Achava que chamar-lhe Brunei ia dar ao mesmo e, o maior erro de todos, estava convencida de que num fim-de-semana prolongado dava para ver tudo o que tinha interesse.

Rita @ Borneo: 4 dias na Malásia Oriental

Duração: 4 dias

Destinos: Kuching

Deslocações: Grab, táxi e a pé

Alojamento: Batik Boutique Hotel, reservado via booking

Mês: Abril de 2018

Pois que, o Borneo, mesmo sendo uma ilha, é enorme. E, tem um pouco de tudo o que possam imaginar: montanha, vida selvagem, praia, cidades, património cultural, museus, artesanato, comida deliciosa e pessoas super simpáticas. Além disso, o território do Borneo, divide-se entre 3 países: Malásia, Indonésia e Brunei. Ou seja, a minha confusão com o nome vinha do facto de, no Borneo, existir um pequeno país chamado Brunei. Quem nunca ouviu falar no famosíssimo e mega-rico sultão do Brunei?!

Portanto, não, 3 ou 4 dias não chegam para ver muito do Borneo. Se viajarem com uma criança atrás e não quiserem “esticar a corda” com dias muito preenchidos de actividades e com a garantia de alguns confortos, ainda menos. E, foi assim que acabei por decidir concentrar a nossa visita apenas numa zona pequena desta ilha: Kuching. Mas ainda assim, foi uma viagem preenchida e conto-vos a minha experiência.


Templo em Chinatown

O que ver em Kuching e arredores

Kuching é a capital do estado Malaio de Sarawak. Fica junto ao rio que dá nome ao estado (rio Sarawak) e é uma cidade acolhedora com vários edifícios coloniais, misturados com templos e construções de traça chinesa e outros mais modernos. A curta distância tem parques naturais, aldeias indígenas (visitáveis), praias e outras atracções na Natureza. A nossa opção, dado que viajámos com a Inês, foi ficar num hotel na cidade e fazer alguns passeios a pontos de interesse.

Para chegar a Kuching, a opção mais simples, será voar directamente de Kuala Lumpur. São cerca de 2 horas de voo com a Airasia. Há uma grande oferta de hotéis e alojamentos locais desde coisas mais luxuosas a outras mais básicas, como as cabanas sem água quente do Bako National Park. A minha opção, foi por um hotel normal mais perto do centro da cidade, o Batik Boutique Hotel. Que, não sendo maravilhoso, é decente e serviu bem o nosso propósito. O grande ponto positivo deste hotel foi sem dúvida o pessoal, que era de uma simpatia extrema e que fizeram tudo e mais alguma coisa por nós.


The Commons

Dia 1: Borneo – passeio por Kuching

O nosso primeiro dia no Borneo e, porque chegámos cansados, incluiu apenas um passeio pelo centro da cidade para tomar café, ver a zona ribeirinha e familiarizarmo-nos com a vizinhança. Foi nesta tarde que descobrimos (por recomendação da dona do nosso hotel) o The Commons, o café/restaurante que passou logo a ser o nosso sítio preferido na cidade e onde voltámos mais uma data de vezes. Fica num edifício colonial onde funcionava o antigo tribunal, tem uma decoração maravilhosa e o menu também não desiludiu.

Depois disto, tendo a chuva acalmado, demos uma volta pelas ruas do centro, descobrimos templos chineses e algumas lojas giras, especialmente uma, de antiguidades, onde eu já queria comprar uma nova decoração para a casa, não fossem os preços das coisas serem tão elevados. À noite, passeámos novamente junto ao rio, mas agora sem o calorão que se sentia durante o dia e apreciámos um pouco da vida local. Os diferentes restaurantes e quiosques enchem-se de famílias que vêm até aqui para comer, passear e conviver. Há música, vendedores ambulantes, crianças a fazerem bolas de sabão. Jantámos num restaurante Malaio, chamado Bla, bla, bla, de onde saímos a rebolar.



Orangotangos na reserva natural de Semengghoh

Dia 2: Borneo – os orangotangos em Semengghoh

No nosso segundo dia, organizámos uma ida à reserva natural de Semengghoh para ver os oragotangos, com a ajuda do pessoal do hotel. A reserva fica a menos de 1h de carro do centro da cidade. Mas, antes de irem, convém que saibam algumas coisas:

  • A reserva abre ao publico duas vezes por dia: os visitantes podem optar por assistir ao período de alimentação dos animais durante a manhã, ou à tarde e permanecer durante 1 hora.
  • Estes orangotangos estão em estado semi-selvagem: este espaço é uma reserva e existe alguma intervenção humana, na alimentação e noutros cuidados com os animais.
  • Não há garantia de que quem visita consiga sempre ver os orangotangos: por ser um habitat semi-selvagem, se eles não estiverem com fome, não vêm procurar a comida e não se deixam ver.


No nosso caso, tivemos muita sorte porque conseguimos ver um macho, uma fêmea e um bebé orangotango. E foi uma das coisas mais giras que fiz na vida. Começámos por ver as árvores a abanarem ao longe e depois cada vez mais perto, sem se conseguir ainda distinguir nenhuma criatura. Aos poucos, começámos então a ver o oragotango macho a aproximar-se, vindo do meio da selva, balançando de ramo em ramo para finalmente se mostrar, por completo, pendurado numa árvore, todo esticado, revelando o seu tamanho enorme. Foi um momento super emocionante.

Mas a minha parte preferida foi a demonstração de força (sem qualquer intenção deliberada) desta criatura que, com os dentes, num gesto super simples, bateu com um côco num tronco de uma árvore e depois, com os dentes, arrancou-lhe a casca para lhe beber a água. Um côco. Sabem aquela casca castanha e dura que só conseguimos partir com um martelo…o oragotango arrancou-a com os seus dentinhos…glup! Se havia ali alguém a pensar quebrar as regras de não fazer barulho ou de não se aproximar em demasia, acho que ficou completamente demovido.

O nosso almoço, foi no Feast and Furious, um sítio completamente diferente em que a decoração são carros e motas. Este decor pertence à colecção do proprietário do restaurante, com quem passámos um bocadinho à conversa para perceber a história por trás daqueles objectos todos e algumas das suas aventuras pelo mundo. Ao final do dia, fizemos um passeio de barco que prometia avistamentos de golfinhos, macacos proboscis (aqueles que têm uns narizinhos compridos), crocodilos e pirilampos. No nosso caso, não tivemos muita sorte porque vimos apenas alguns macacos e também alguns pirilampos. Mas o passeio foi agradável porque sendo no rio, sempre apanhámos um ar mais fresco.

Nesta noite, jantámos no Top Spot Seafood, o terraço de um prédio de estacionamento, onde existe uma zona de restauração a céu aberto, frequentada maioritariamente por famílias Malaias. Explicaram-nos que é um dos poucos sítios onde muçulmanos e não muçulmanos podem comer em conjunto porque muitos dos restaurantes que aqui operam servem marisco halal e os copos, onde uns bebem bebidas alcoólicas, não são usados pelos outros que não o podem consumir.

A atmosfera é um pouco caótica, à boa maneira Malaia. O espaço é uma praça, com restaurantes (que na verdade são só as cozinhas) à volta e mesas e cadeiras de plástico no meio. Os pratos são escolhidos directamente nas bancadas à porta de cada restaurante, onde estão expostos os peixes, os mariscos, os legumes e restantes iguarias. Escolhemos marisco e peixe grelhados e sem molhos e acompanhámos com alguns legumes/verduras locais, entre elas o famoso midin (rebentos de feto) e sumos de fruta fresca. Comemos muito bem e os preços foram muito em conta.



Reprodução de uma cabana indígena na Sarawak Cultural Village

Dia 3: Borneo – visita à Cultural Village

Começámos o dia com uma visita à Sarawak Cultural Village. Um museu-vivo nos arredores de Kuching, que pretende ser uma representação dos diferentes povos nativos desta região e da forma como viviam. E, tenho a dizer só isto: os museus, são como a comida, só fazem sentido mortos. Este museu é uma espécie de Disneylandia, mas em pobrezinho. Consiste numas cabaninhas, feitas conforme seriam as dos diferentes povos indígenas e tem figurantes que por lá estão, vestidos de acordo com a tribo que representam, a fingir uma vida. Vimos um espectáculo, onde demonstraram danças, ritos e actividades indigenas e em que o ar-condicionado e o volume da música disputavam a ver quem nos ia matar primeiro. Portanto, se decidirem visitar este sítio, vão daqui avisados.

Regressámos a Kuching desiludidos e almoçámos num restaurante que apenas serve comida tipicamente local, The Dyak. Os pratos são feitos usando alguns ingredientes recolhidos na floresta. A decoração é simples, mas muito bonita e os senhores, que penso serem os donos do restaurante, são um casal de velhotes, muito compenetrados nas suas funções e sem pressas. Éramos os únicos no restaurante porque já chegámos muito tarde e foi uma experiência interessante.

No caminho de regresso ao hotel passámos para conhecer a Tanoti Crafts, uma fundação da mesma dona do hotel em que ficámos, que pretende empregar e ensinar mulheres das comunidades rurais a tecerem segundo os métodos tradicionais e utilizar esses tecidos em peças modernas. Tem também o objectivo de recolher peças de artesanato junto das povoações indígenas que vivem isoladas na selva e disponibilizá-las para venda ao público. Fomos para conhecer o espaço e fazer algumas compras.

A nossa opção para jantar neste 3º dia, foi um restaurante chinês que consta ser o melhor de Kuching: The Heritage. Estava cheio de famílias chinesas em celebrações de aniversários, o que era promissor. E não desiludiu. Já não me lembro exactamente do que pedimos, mas sei que as doses eram enormes e mais uma vez, comemos muito, bem e a bom preço.



Alguns detalhes no Museu dos Texteis

Dia 4: Borneo – Museu dos texteis e mercado local

Este era o dia em que eu queria ter ido até ao Gunung Gading National Park para ver a maior flor do mundo, a raflésia. Mas a Natureza trocou-me as voltas e, durante a minha estadia no Borneo, não houve flores. As raflésias demoram 9 meses a maturar e não têm uma época específica para florir. Quando o fazem, mais frequentemente na época das chuvas, a flor só dura uns 5 dias e depois morre. Estive atenta à pagina do parque no Facebook, mas nada de flores durante os dias que por lá estive…

Começámos então este dia com uma visita ao Museu dos Têxteis – Textile Museum Sarawak, porque é um tema que me interessa muito. O museu fica num edifício colonial interessante (especialmente por fora), mas é pequeno e não tem assim nada muito muito relevante para ver. Do que mais gostei e, onde passei mais tempo, foi da loja do museu, a conversar com a senhora que lá trabalha e que faz (e vende) colares de contas de inspiração indígena, muito giros. Além de que me mostrou o stock de contas, conchas e missangas que compra e guarda em malas de viagem (das grandes).

Depois de almoçarmos mais uma vez no The Commons, continuámos o dia a passear pelo Main Bazaar, uma zona de lojas de produtos locais em frente ao rio, para fazer umas compras. Entre artesanato local, tecidos e chinesices de plástico, encontra-se um pouco de tudo. Há algumas lojas de antiguidades com produtos locais muito apetecíveis, especialmente ao nível da decoração. Mas há que ter algum conhecimento e poder de negociação, para ser fazerem bons negócios.

Óbvio que ficou muito por ver, mas deu para conhecer algumas coisas e, o mais importante de tudo, deu para ver os orangotango que, foram a principal razão da nossa viagem. O sítio mais popular nos arredores de Kuching é o Parque Nacional de Bako mas, para se visitar em condições, recomendo que sejam aventureiros e fiquem a dormir no alojamento do próprio parque. As únicas razões pela qual não o fizemos foi por estarmos com a Inês e acharmos que as actividades que se podem fazer no parque (caminhadas no meio da selva, passeios de barco, etc) não se adequavam à desenvoltura dela. Bem como o tipo de alojamento e serviços disponíveis serem mesmo muito básicos. Não será impossível visitar este parque com crianças, mas nós optámos por não o fazer.

Vista do State Legislative Building à noite


Ficou ainda muita coisa por conhecer do Borneo. Além do outro lado da parte Malaia, onde tem praias lindíssimas, há a parte Indonésia. Também há o Brunei onde, até terem implementado certas e determinadas leis, também estava interessada em ir. Actualmente, risquei da minha lista. Do que vimos, gostei bastante e adorei muito as pessoas. Todas as pessoas que conhecemos eram super boa onda, não sentimos qualquer réstia de fanatismo religioso (muito comum na parte da Malásia que já conhecíamos) e o sentido de humor reinou sempre. Toda a gente me dizia que os malaios do Borneo são muito diferentes dos malaios da parte continental. E é uma grande verdade.




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