Belitung é com 99% de certeza um destino do qual nunca ouviram falar. É uma ilha a Norte de Jakarta, a cerca de 1 hora de avião, onde passei uns dias em Outubro e onde me preparo para voltar em breve. Como já percebem por aqui, adorei. É um destino de praia ainda muito puro, nada turístico mas, ainda assim, super civilizado, limpinho, calmo, seguro e com mais do que o básico para umas férias perfeitas.
A maioria dos turistas que vão para Belitung são Indonésios de Jakarta que procuram fugir do caos da cidade ao fim-de-semana. Ou seja, não é um destino na rota do turismo internacional. Não esperem ver nem muitos estrangeiros, nem encontrar uma oferta turística muito elaborada. “Ah, mas agora vais falar nisso aqui e toda a gente vai começar a ir para lá”, não se preocupem porque o meu publico são 3 pessoas.
Rita @ Belitung: há mais Indonésia para além de Bali
Duração: 5 dias
Locais visitados: Tanjung Tinggi, 5 ilhas, vila balinesa, templo chinês Dewi Kwan Im, Niagara Gurok Beraye, Manggar e Pantai Serdang
Deslocações: Vôo Jakarta- Tandjung Pandan com LionAir, transporte local com táxi pré-reservado e passeio às ilhas de barco com a Street taxi Belitung
Alojamento: Hotel Santika Premiere Beach Resort
Quando: Outubro de 2018
Eu tenho uma pequena embirração com Bali. Não acho possível que, sendo a Indonésia um país tão grande, com tanta ilha e praia deslumbrante, que vá todo o mundo enfiar-se lá, onde as praias não são lindas (nem limpas) e onde acaba tudo ao monte, seja dentro de água a surfar, ou no caos do trânsito. Mas não confiem em mim nesta avaliação, até porque eu nunca fui a Bali…contaram-me.
O que eu quero demonstrar aqui é que a Indonésia é muito mais do que Bali e que não faz sentido escolher um destino só porque está na moda e toda a gente vai. Olhem para o mapa, informem-se e abram os horizontes. A única desvantagem de não haver muitos estrangeiros em Belitung, é que isso pode levar a que nos tornemos no centro das atenções. Há que ter isso em conta no nosso comportamento e até na forma de vestir (especialmente na praia).
O conceito ir à praia para os indonésios é muito diferente do nosso. Aqui, ninguém se estende em biquíni ao sol. As famílias passam o dia na sombra, todos vestidos e, dentro de água, são maioritariamente as crianças e os homens que estão. As mulheres costumam molhar-se até ao joelho, mas mesmo que nadem, estarão vestidas o mais possível. Portanto, nós optámos por ir às praias públicas apenas durante a semana e pudemos aproveitar ao máximo e sem preocupações, já que só lá estávamos mesmo nós.
Como a intenção para estes dias de férias em Belitung era descansarmos o mais possível, queríamos um hotel directamente na praia, sem necessidade de muita oferta cultural ou de actividades mais radicais. Decidimos por isso ficar na parte Norte da ilha, num hotel que, embora remoto, cumpria os requisitos. Ficámos no Santika Premiere Beach Resort. E, tirando a comida que além de cara, não é maravilhosa e um pequeno incidente com a limpeza do quarto à chegada, não temos razão de queixa.
Dia 1 em Belitung: sopas e descanso
No caminho do aeroporto para o hotel, já ficámos a perceber que a ilha é uma paz. Zero confusão, aldeias limpinhas com casas típicas coloridas e pouquíssimos carros. Chegámos ao hotel na hora de almoço e portanto, decidimos comer e ficar pela praia do hotel. Eu dediquei-me logo a fazer um reconhecimento das areias em termos de potencial de conchas e percebi que era muito promissor. Na minha primeira voltinha encontrei um sand dollar e fiquei histérica.
Dia 2 em Belitung: uma praia só para nós
No segundo dia, apanhámos um táxi no hotel e fomos até à praia mais famosa da ilha, Tanjung Tinggi, a menos de 10 minutos do nosso hotel. A paisagem é marcada pelos enormes blocos redondos de pedra branca e conzenta que saem da água azul clarinha. Ficámos por lá até à hora de almoço entre mergulhos, apanhar mais sand dollars (porque afinal havia montes deles) e brincadeiras.
Depois, quando se começava a preparar uma chuvada monumental, fugimos para o restaurante Lemadang e por lá almoçámos e nos protegemos até o temporal passar. Este restaurante passou a ser a nossa sala de refeições porque o peixe e o marisco grelhado eram óptimos, tinha sumos naturais e custava um terço do restaurante do hotel onde a comida não era maravilhosa.
Dia 3 em Belitung: passeio de barco
No terceiro dia, apanharam-nos cedo no hotel e seguimos para a praia de onde partem os barcos, menos de 15 minutos de trajecto. O passeio mais comum leva-nos a 5 ilhas (+ 1 que apenas aparece na maré-baixa e que nesta altura do ano não se vê), mas podem combinar com o barqueiro onde querem ir, é tudo negociável. Apesar de eu não gostar de andar de barco, nem nada que envolva estar muito tempo na água, adorei.
As ilhas que visitámos foram: Batu Berlayar, Lengkuas, Kepayang, Kelayang e uma outra que não registei. Cada uma destas ilhas tem a sua particularidade e o senhor do barco vai tentando mostrar e explicar tudo dentro do seu inglês reduzido. É um passeio que se faz super bem, mesmo com crianças, porque as ilhas são muito perto umas das outras e o mar é muito calmo.
Pelo meio ainda fizemos snorkeling e acho que foi a vez em que vi mais peixinhos na minha vida. Eram tantos peixes em cima de nós que mal conseguíamos ver o coral em baixo. Tudo lindo. Terminámos o passeio com um almoço de marisco numa barraquinha na praia e mais uma grande chuvada. À tarde ficámos pelo hotel e já só saímos para jantar, de novo no Lemadang.
Dia 4 em Belitung: à descoberta do interior da ilha
Dedicámos este dia a conhecer outras partes da ilha, que não praias. Não foi fácil organizar um roteiro porque, como dizia na introdução do texto, Belitung não é um destino turístico, nem tem monumentos nem atracções propriamente ditas. Mas, na conversa com um dos 11 residentes estrangeiros da ilha, um australiano que conhecemos nos dias anteriores, ficámos a saber de alguns pontos de interesse e quisemos ir explorar.
Como ainda não tínhamos carta de condução local na altura, decidimos alugar um carro com motorista por 12 horas, mas se tiverem a carta de condução internacional, podem conduzir vocês. A ideia era irmos até Manggar, a cidade dos 1001 cafés, na ponta mais Este da ilha e, pelo caminho, visitar algumas coisas.
O nosso roteiro incluía então:
Vila balinesa junto a Sijuk, uma vila de balineses que foram para aqui trazidos há muitos anos numa tentativa de misturar os povos das diferentes culturas e uniformizar as tradições indonésias, mas que teve o resultado oposto. Os balineses chegaram a Belitung e por não se adaptarem à cultura local, construíram uma aldeia idêntica as que existem em Bali e ali se refugiaram, numa pequena bolha.
Niagara Gurok Beraye, uma cascata no meio de coisa nenhuma à qual não recomendo irem. O acesso é feito por uma estrada de montanha péssima e, lá chegados, não há nada maravilhoso para ver. A água é suja, tem macacos por todo o lado prontos a lançarem a mão a qualquer tipo de comida que possam ter convosco e não é assiiiiiim uma cascata tão magnifica que valha a pena. Não tem nada de Niagara…
Open pit, um poço de uma escavação de minério, que encheu de água da chuva e formou um lago azul-turquesa. Aparece como um dos sítios a ver em Belitung e é usado como cenário para fotografias de casamento. Como era no caminho que tínhamos destinado fazer, fomos espreitar, ou melhor, não fomos…fizemos todo o caminho até lá, menos os últimos 2 km, porque teriam que ser feitos a pé ou num todo-o-terreno. Não sabíamos destes pormenores, mas se decidirem ir até este sítio já vão daqui avisados.
Manggar, esta é uma cidade à beira-mar, conhecida por ter 1001 cafés. É uma cidadezinha pacata, onde parámos para almoçar, num restaurante junto a um lago, muito agradável. A comida era boa, mas a cozinha não tinha um aspecto nada limpo e a verdade é que o Pedro acabou por passar mal depois desta refeição. Felizmente, eu e a Inês, não.
Antes de iniciarmos a viagem de regresso o hotel, fomos a um cafézinho local, super simples provar o tão afamado café de Manggar. Apesar de não conseguirmos comunicar muito bem com as empregadas, lá vieram os cafés para a mesa. Eu não sei apreciar café e só o bebo com leite, por isso, por mim, estava bom, obrigada.
Dewi Kwan Im, um templo chinês pertinho de Manggar, construído em 1747 e é o maior e mais antigo mosteiro da ilha. É um templo pequeno, e bem cuidado, no cimo de uma montanha de onde se tem uma vista desafogada até ao mar. Por esta altura, a Inês já tinha adormecido no carro e, por isso, eu e o Pedro fizemos a visita à vez.
Pantai Serdang, uma praia diferente das outras que tínhamos visitado nos dias anteriores, com uns barquinhos de tons pastel que lhe davam um colorido muito giro. Por ser sábado, estava cheia de adolescentes locais e que mal nos viram se começaram a rir muito. Como só queríamos ver a praia e tirar umas fotos, não nos fez muita diferença, mas se tivéssemos intenção de fazer praia ali, acho que o plano nos teria saído furado.
Aproveitando o motorista até ao limite das 12 horas, depois de uns momentos de descanso no hotel, fomos jantar ao Lemadang onde por esta altura já todos os empregados nos conheciam e sabiam que o nosso peixe era para temperar só com sal e alho e nada de molhangas. Foi um dia longo, com alguns percalços, mas preenchido e interessante.
Dia 5 em Belitung: recuperar das maleitas
Neste dia tínhamos programado mais um passeio de barco, para ver outras 3 ilhas, mas o almoço do dia anterior não caiu bem ao Pedro e eu tinha sido atacada por sand flies, uns bichinhos pequenos que picam e provocam uma comichão do demónio. As minhas comichões estavam ao rubro, de modo que decidimos cancelar e ficar no hotel entre a piscina e a praia (dentro de água ou na areia, mas sempre com muito repelente).
A Inês fartou-se de dar saltos para a piscina e eu ainda apanhei mais umas conchas. Foi um dia bem tranquilo em que ainda aproveitámos para fazer as malas e preparar as coisas para o regresso a casa na manhã seguinte.
Belitung é um paraíso, acho que pelas fotos percebem isso. A tranquilidade, as estradas boas e desimpedidas, as casinhas coloridas e bem cuidadas e a simpatia das pessoas, transmitem uma calma de que quem vive no caos de Jakarta tanto precisa. Se juntarmos a isto, a cor do mar e a temperatura, os peixinhos, a ausência de lixo (que é infelizmente uma realidade muito frequente nas praias desta região) e zero pessoas em quase todo o lado , é mesmo um destino perfeito.
Tivemos o azar de não sabermos da existência das sand flies e não termos logo usado muito repelente desde o primeiro momento (sim, porque todos três acabámos a sofrer com isto), além da mini-intoxicação alimentar do Pedro. Mas estou cheia de vontade de regressar para ver mais ilhas, especialmente aquela que só aparece na maré-baixa e que tem centenas de estrelas-do-mar gigantes, visitar a cidade principal e talvez explorar um pouco mais o interior.
A sério, a Indonésia não é só Bali e espero vir a descobrir mais paraísos como Belitung para reforçar esta certeza.