Como já vos falei, a minha (nossa) mudança de Kuala Lumpur para Jakarta, está para muito breve. Finalmente há uma data agendada e as coisas estão a tornar-se reais. Embora já esteja acostumada a esta dança de empacotar tudo e seguir caminho e, os passos que compõem esta fase, sejam sempre os mesmos, continua a ser um período de algum (muito) stress.
Talvez já tenham feito algumas mudanças ao longo da vossa vida e se identifiquem com o processo que vos vou descrever. Eu já mudei de casa muitas (MUITAS!) vezes, mas só depois de começar a mudar de país e de continente me dei conta de certos detalhes logísticos. Sem contar com a toda a readaptação cultural e emocional envolvida, há certas coisas sobre mudanças que, apesar de me considerar uma mudadora profissional, não sabia.
Detalhes sobre mudanças nos quais provavelmente nunca pensaram
Nós mudamo-nos com a casa às costas (mobílias, roupas, tralhas da cozinha, tudo) o que simplifica algumas coisas, mas complica outras. Felizmente, temos o apoio da empresa do Pedro que nos trata da logística e nos manda uma equipa de profissionais para empacotar tudo por nós. Mas há sempre coisas que temos, ou queremos ser nós a fazer e outras, que só quem passa por isto se apercebe. Cancelar contratos de água, luz, gás, telefone, televisão, escola, reencaminhar o correio (quando é possível) ou deixar o balde e a esfregona para trás porque depois da casa vazia é preciso limpá-la e nem sempre as empresas de limpeza têm os seus materiais, são coisas mais ou menos normais, até quando apenas se muda de casa dentro da mesma cidade.
A coisa complica-se quando a mudança implica também vender o carro, o cortador da relva, electrodomésticos, inventariar tudo o que se tem, fechar as contas no banco, ou ficar uns dias sem serviço de telemóvel entre cancelar um SIM e comprar outro no novo país. Isto, para não mencionar as burocracias legais que envolvem os pedidos de vistos, tirar novas cartas de condução (se necessário), pedir segundos passaportes, conhecer determinadas leis locais, alugar mobílias temporárias enquanto as nossas coisas não chegam ou, ficar a viver num hotel durante uns tempos…há um mundo de pormenores para decidir e tratar, ao mesmo tempo que se gerem as emoções e se procura ter uma vida normal (com uma criança atrás).
Faço-vos um apanhado das nossas diferentes mudanças e dos desafios logísticos que cada uma delas nos apresentou.
Mudar de Portugal para França
Como é fácil perceber, esta foi a nossa mudança mais simples. Por sermos ambos cidadãos da UE, não precisámos de pedir nenhum tipo de visto, nem tratar de nenhuma burocracia complicada. Também tivemos sorte porque os senhores das mudanças eram verdadeiras máquinas. A sério, nesta mudança conheci o recordista do mundo na arte de embalar pratos e copos. A velocidade a que o senhor enrolava as coisas em papel e as metia nas caixas era alucinante. Empacotaram e carregaram as nossas coisas em 5 horas e, 2 dias depois, estava tudo intacto em Toulouse. Não foi preciso pensar muito no que íamos levar connosco nas malas, para uso mais imediato, porque em menos de nada já teríamos tudo na casa nova. A corrente eléctrica e as fichas são iguais em Portugal e em França portanto, não precisámos de abandonar nenhum electrodoméstico. Não houve restrições em relação a nenhum tipo de produto e, até pudemos levar um carregamento de azeite, bacalhau e garrafas de vinho (as pessoas saíram de Portugal, mas Portugal não saiu das pessoas!).
Esta mudança foi tão simples que o Pedro até se foi embora a meio do processo de encaixotar as coisas. Seguiu tudo de camião, nós demorámos 2 horas de avião e tudo se fez com muita facilidade. Até porque na altura ainda não tínhamos a Inês. Descobrimos na mudança seguinte o quão mal habituados ficámos e que não, não é normal que uma mudança de país se faça de forma assim tão simples, fácil e rápida.
Mudar de França para os Estados Unidos
A mudança de Toulouse para Seattle, foi um processo mais complicado. Em termos burocráticos, foi preciso tratar de uma série de coisas. Para obter os vistos, precisámos de pedir um monte de documentos (e traduções), fazer uma entrevista na embaixada e até tivemos que ir casar a correr para simplificar o processo. Demos conta de que a maior parte dos nossos electrodomésticos não iria funcionar lá (por causa da corrente ser diferente) e, os que funcionassem precisavam de adaptadores para as fichas. Levar as nossas garrafas de vinho também tinha um custo que não fazia sentido (teríamos que pagar taxas de importação de álcool que eram mais altas que o custo das próprias garrafas), levar produtos alimentares, nem pensar e, assim, acabámos a vender uma série de coisas.
Desta vez, o nosso carregamento dividiu-se em 2 tipos: um contentor pequeno que seguiu por avião e nos foi entregue em 2 semanas, para pormos as coisas de que precisaríamos com mais urgência e, o contentor grande, com tudo o resto, que seguiu de barco. Nesta altura já tínhamos a Inês e o espaço do contentor do avião foi quase todo dedicado às coisas dela. Embora não tivéssemos aumentado assim tanto os nossos pertences, os senhores que fizeram esta mudança demoraram 4 dias a encaixotar tudo (os franceses são muito rigorosos com os horários de trabalho). O contentor demorou 3 meses a chegar a Seattle e nós fizemos uma viagem de avião de 15 horas, com 6 malas de porão (mais malas de mão e mochilas), 1 cadeirinha de bebé, um carrinho e a própria da bebé atrás. Um pouco mais complicada que a mudança anterior, certo?!
Mudar dos Estados Unidos para a Malásia
Esta foi a nossa mudança mais complicada até agora. Primeiro, porque nos mudámos um pouco contrariados. Quem é que quer sair do sossego de Seattle para se vir enfiar em Kuala Lumpur? Ou, quem é que quer fazer uma mudança quando ainda só passou 1 ano desde a última? E depois, porque houve uma série de questões burocráticas que nos consumiram demasiada energia. Precisámos de pedir passaportes novos, mesmo que os nossos ainda estivessem válidos e o consulado Português com jurisdição para isso era em São Francisco (um bocadinho fora de mão). Da parte da gestora de mudança encontrámos alguns nãos quando antes tínhamos ouvido sim, etc…
Antes de sairmos dos Estados Unidos aproveitámos para fazer algumas compras de coisas que depois seria mais complicado encontrar (ou que fossem mais caras). A certa altura, parecia um pouco que o mundo estava para acabar e nós não queríamos ser apanhados desprevenidos… De novo se colocava a questão dos electrodomésticos serem de um tipo de corrente diferente mas, em vez de vendermos tudo outra vez, optámos por comprar transformadores para os podermos continuar a usar. Não ia abandonar a minha Kitchenaid azul-cueca. Havia uma série de produtos proibidos que não podíamos trazer connosco mas, como já tínhamos vendido o vinho todo em França, não nos fez assim tanta diferença. De qualquer forma, não pudemos trazer lâmpadas, pilhas, nem líquidos potencialmente inflamáveis (alguns cosméticos incluídos). Surpreendentemente, apesar da distância, o nosso contentor só demorou 1 mês a chegar à Malásia e em menos de nada já tínhamos tudo connosco.
Mudar da Malásia para a Indonésia
E chegamos ao momento presente. Esta é a mudança que está em curso e até agora está tudo a correr como previsto. As burocracias foram complexas mas até se resolveram com mais facilidade do que esperávamos. Apenas a escolha da casa foi mais complicada, mas mais por indecisão nossa do que outra coisa. Vai ser uma mudança de país, mas não de continente e, as regras de produtos permitidos e não permitidos não são muito diferentes das da mudança anterior. O nosso carregamento, vai dividir-se outra vez em 2: um contentor pequeno que segue por avião e, o contentor grande, que segue de barco e está previsto demorar 1 mês a ser entregue na nossa casa nova em Jakarta. Mas desta vez já não sinto a pressão de fazer as escolhas certas em relação a coisas mais e menos urgentes. Aprendi na mudança de Toulouse para Seattle que coisas são só coisas e que desde que estejamos todos bem, em países civilizados (ou mais ou menos), tudo se encontra e tudo se resolve.
Na Indonésia, a corrente eléctrica será igual, mas as tomadas são diferentes, mantêm-se os electrodomésticos, os conversores de corrente (para as coisas que já vinham dos Estados Unidos) e entram novamente os adaptadores para as fichas. Bem sei que é cedo para falar, mas pelo menos do nosso lado, estamos bem organizados nos afazeres. Actualmente, estamos na fase de destralhar e fazer algumas arrumações e limpezas para facilitar o encaixotanço das coisas.
O blog entrará por agora em stand by e as aventuras nómadas serão documentadas via Instagram (mas não de forma Big Brother) para quem quiser ir espreitando. Mal a minha vida esteja mais organizada, regressarei com novas aventuras.
Desejem-me (nos) sorte!