Em todas as despedidas que tive até à data no meio desta vida cigana, fui sempre eu quem se foi embora. A vida das pessoas continuou lá onde estavam e eu fui começar uma vida nova noutro sítio. No fundo, elas é que tiveram que se acostumar à minha ausência no seu dia-a-dia. Não significa que sejam despedidas mais fáceis, não serão. Recomeçar a vida toda num local desconhecido é muito difícil (acreditem, eu sei!). Mas é algo que já me é familiar e sei como gerir. Considero que tenho vivido as despedidas do lado bom. Do lado de quem tem alguma coisa nova e entusiasmante à espera.
Mas há um outro lado das despedidas para o qual não tinha ainda despertado
Um dos momentos preferidos do meu dia é quando vou buscar a Inês à escola. Faço sempre questão de chegar bem antes da hora e, nesse bocadinho em que faço tempo, chegam também as outras mães e pais. 99% são estrangeiros, expatriados, tal como eu. Independentemente do nosso contexto cultural de origem, aqui, vivemos uma experiência muito parecida. Estes minutos diários, são de empatia e compreensão que vão para lá das palavras que trocamos. Estamos todos no mesmo barco. Vivemos as mesmas frustrações, sentimos as mesmas dificuldades.
No outro dia, enquanto esperava pela Inês, apercebi-me então de uma coisa que talvez estivesse a evitar que me cruzasse o pensamento. Aquelas pessoas, tal como eu, estão aqui de passagem. E algumas vão-se embora antes de mim. Em Jakarta é assim, quase ninguém está para cá ficar e mais cedo ou mais tarde as depedidas começam. Fiquei de olhos esbugalhados quando dei conta de que uma das mães disse que no final do ano lectivo vai regressar ao seu país de origem…
Como assim? O ano lectivo termina daqui a 2 meses. Isso é amanhã! E depois dela, logo ao lado, outra mãe: Nós também já vamos em Junho. E ali a Mary, vai no final deste mês.
Despertei agora para o óbvio: esta estadia em Jakarta vai-me trazer a visão do outro lado das despedidas. Do lado mau. Pela primeira vez sou eu quem vai ter que aprender a seguir na mesma vida, sem certos figurantes. Podem pensar que ainda não estou aqui há tempo suficiente para já ter feito amizades que me deixem saudades. Ou estabelecer rotinas que incluem determinadas pessoas. Enganam-se. Como vos contava há um tempo, Jakarta trouxe-me a possibilidade de uma vida social como não tive até agora em nenhum outro país onde vivi. E sim, já tenho mesmo pessoas amigas. E outras de quem gosto e que fazem parte dos meus dias, mesmo sem lhes saber os nomes.
Esta consciência de que algumas dessas pessoas têm data marcada para ir embora primeiro do que eu, deu-me uma outra perspectiva das despedidas. Neste caso, daquela mãe da escola com quem gosto de conversar mas nem sei como se chama, talvez não seja grave, mas outros casos haverá que vão tornar isto num processo muito difícil. E, embora isso seja só uma miragem lá no fundo, eu sei que o dia vai chegar. E não me sinto preparada. No fundo isto é uma metáfora sobre a vida (que profundo que isto está hoje…) e a conclusão é mais do que óbvia: aproveitemos!