No fim-de-semana passado, numa visita que fizemos a Sorèze, uma povoação não muito longe de Toulouse, encontrámos uma lojinha de livros em segunda mão. Entrámos quando o dono já se preparava para a fechar, escolhemos à pressa uns postais ilustrados antigos, pagámos e preparámo-nos para sair.
Nisto, o senhor, percebendo que éramos estrangeiros, arriscou um “vous êtes Italiens?”, corrigimos, que não, que somos é Portugueses e ele ficou muito entusiasmado e pediu-nos para esperarmos “bougez pas, bougez pas!”.
Remexeu o fundo de um caixote de cartão e tirou de lá aquilo que apregoou com sendo “voilà! la nostalgie portugaise! 50cts pour vous”, sorrimos, demos-lhe 1€, “c’est bon!” e trouxemos para casa um livro de viagens sobre Portugal, escrito em 1966 por um autor Francês, da colecção L’Atlas des Voyages.
Curiosos para ver qual seria a perspectiva do autor acerca do nosso país e, entusiasmados por termos adquirido esta espécie de relíquia a tão bom preço, mal chegámos a casa, espreitámos o conteúdo.
Depois uma introdução poética em que o autor disserta acerca do facto de Portugal, ali no fundo da Europa, encalhado entre o mar e Espanha, ser como a última gaveta de um armário, da qual, por estar tão longe, nunca nos lembramos, chegamos à página 23.
Aqui, pensámos estar a ler as gordas de um qualquer jornal publicado esta manhã:
“Um país em crise – o Portugal de hoje é um país em estado de crise.”
No fim de contas, parece que o livrinho antigo sobre Portugal, continua actual. Claro que as razões da crise, em 1966 não eram as mesmas de agora, mas não deixa de ser curioso, e triste, que o nosso país à beira mar plantado (e não encalhado), antes e depois, continue a ter este traço comum.
Ainda não li com detalhe, mas já deu para perceber que o livro, fala essencialmente do clima político e do contexto do país à época, e não tanto dos monumentos ou dos sítios a visitar, como seria de esperar de um livro de viagens.
De qualquer forma, será uma leitura interessante. Para já, tenho-me divertido com as fotos de um Portugal que não conheço exactamente assim.
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Destaque para a página 40, e esta legenda que me fez rir alto e bom som:
E pronto, assim de repente, deixei de ser Alentejana, ’tá certo!